Uma das causas da decadência do catolicismo no mundo
– com destaque para a América Latina, o que explica em parte a escolha do atual
papa - é a pouca ou nenhuma ênfase dada por seus líderes ao estudo sistemático
da Bíblia por parte dos fiéis. Como acertadamente acentuou Rubem Alves, ao contrário
da prioridade atribuída pelos protestantes à doutrina correta – daí a
fragmentação denominacional que os caracteriza - os católicos partem da ideia
da autoridade correta. Se, de um lado, este fator ajuda na preservação da
unidade política da Igreja, de outro contribui para reduzir o conhecimento
doutrinário do povo praticamente a zero, tendo em vista que o bom católico
torna-se aquele que meramente submete-se aos decretos pontifícios, em
detrimento daquele que se vê motivado a conhecer e dar a conhecer, como um dado
da experiência pessoal, a razão de sua fé e de sua esperança.
Longe de
representar um motivo de alegria para aqueles, como os batistas, que
historicamente valorizam – ao menos no discurso - a prática do estudo bíblico,
essas constatação precisa servir como um alerta no sentido da autocrítica e da
eventual correção de rumos. Somos melhores nesse quesito, mas não tanto como
gostamos de imaginar.
Não é novidade para
ninguém a fraqueza crônica da escola bíblica em expressiva parte das igrejas.
Talvez na maioria delas, para ser realista. Em muitas, o despreparo dos
professores, com raríssimas exceções, é gritante. As condições objetivas para
uma boa aula nem sempre estão presentes, a começar pelo espaço físico inadequado
e pela ausência de recursos técnicos.
Infelizmente, não são muitos os
ministérios dentro dos quais o estudo bíblico seja visto como uma condição sem
a qual o crescimento na graça e no conhecimento de Deus se torna impossível,
mesmo porque esse crescimento não é considerado necessário. E aí retorna-se à
situação dos católicos, com a agravante de uma comparação injusta e
despropositada. A cultura do culto-show hoje dominante nos arraiais
neoevangélicos mantém muita gente na ilusão de que basta louvar a Deus com
entusiasmo e colher as bênçãos decorrentes da fidelidade nos dízimos e ofertas
para que as coisas estejam bem. Os próprios pastores desse rebanho de adeptos
do oba-oba religioso demonstram um conhecimento precário das Escrituras, por
mais que se auto intitulem bispos, apóstolos e patriarcas. Não basta usar
títulos pomposos, aparecer todo dia na televisão e ser milionário para ser um
conhecedor da Bíblia e saber transmitir seu legítimo conteúdo.
No emaranhado de projetos de igrejas que o pós-modernismo
produziu, as coisas cada vez mais se tornam imprecisas e indefinidas, mostrando
que Zygmunt Baumann estava certo quando chamou a sociedade atual de sociedade
líquida. O binômio dinheiro e poder deixa a impressão de responder por tudo,
inclusive pela descomunal defasagem existente entre a arrogância dos que julgam
deter o monopólio da verdade revelada e a ignorância que revelam na compreensão
da verdadeira revelação de Deus em Jesus Cristo.
Num cenário destes, conhecer o que a Bíblia tem a
dizer a esse tempo de confusão é o mínimo que se espera do povo de Deus. Subestimar
e desprezar essa voz é um erro que costuma custar muito caro – e não só ao Catolicismo
(MN).
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